Gerações
Há coisas engraçadas quando se passa de uma geração para outra, os desenhos animados por exemplo (eu sou do tempo do sports billy e do dr. faísca). Hoje em dia são campeões de audiências a "Floribela" e os "Morangos com açúcar", se andarmos um bocadinho para trás (e não querendo entrar em nostalgias) havia a "Fame" ou o "Quem sai aos seus". Não deixa de ser curioso estabelecer uma comparação entre estas séries e as gerações respectivas.
A série "Fame" relatava o dia-a-dia passado numa escola de artes; a série "Morangos com açúcar" relata o dia-a-dia passado numa escola secundária. Assim à primeira vista as diferenças poderiam não ser muitas (para além das óbvias da língua, dos guiões e da capacidade de representação dos actores), mas se formos analisar com mais cuidado (ok, é escandalosamente evidente) não tem nada a ver.
Na "Fame" os alunos tinham objectivos de vida concretos...Vencer! Vencer na vida e ser alguém à custa do seu trabalho, não era o vencer dos "Morangos" em que (salvo algumas excepções) o que interessa é tramar o próximo ou roubar o namorado da vizinha...todos os episódios giravam em torno dos percurssos mais ou menos fáceis que estes alunos tinham de fazer para chegar onde queriam. Todos eles, ou a grande maioria, trabalhava para sustentar os estudos e pouco tempo tinham para grandes namoros, viviam em casas modestas e vestiam-se de acordo com as suas possibilidades e condição social.
O que eu quero dizer com isto tudo é: os "Morangos" passam uma imagem distorcida da vida ou daquilo que ela deve ser, iludem os adolescentes convencendo-os que serão sempre jovens e atraentes e que não é preciso muito trabalho para se conseguir vencer na vida. E o mais assustador é que estão a conseguir.
E pior ainda é que toda a sociedade contribui para isto. Criou-se o estigma do "aluno coitadinho" e do "professor patife" que infelizmente pegou muito bem. Ao dar aos pais um poder cada vez maior de interferência nas escolas, e ao professores uma cada vez menor capacidade de reagir de acordo com alguns comportamentos menos adequados contribui-se para este estigma..."não pode haver tantos trabalhos de casa senão eles cansam-se", "não se pode castigar tanto os alunos senão eles ficam traumatizados", "ele quer sair à noite e eu não o posso impedir senão fica zangado"...e eu só pergunto uma coisa, é impressão minha ou estamos a assistir a um país inteiro a desistir de educar os seus filhos????